Como a paternidade ativa vem transformando o ser pai

De forma geral as propagandas e homenagens nos dias dos pais se resumem em ilustrar os momentos de brincadeiras com as crianças ou homens engravatados chegando do trabalho e sendo recebido pelos filhos. É recente o movimento paternidade ativa, que encerra a visão do pai provedor e vem discutir e reformular o papel do homem no cuidado dos filhos e, o coloca num papel ativo.

De forma geral, a discussão surge a partir de pai ativos que começaram a escrever seus dilemas e postar informações sobre o cuidado infantil, um assunto que de forma geral era exclusividade feminina. Paizinho, Vírgula! Pai Mala, Papo de Homem são exemplos de blogs e páginas que se dedicam a apresentar e discutir temas relacionados à paternidade e cuidado infantil. Para Giovan Sehn Ferraz, professor de história e pai de Sebastian de 2 anos, a participação masculina é praticamente inexistente em grupos na internet tradicionais.

“Iniciamos um tópico, por exemplo, sobre a questão do sono e de como era difícil para mim balançar ele todo dia e para Pati (companheira) acordar várias vezes à noite para dar o seio, e uma moça comentou falando da experiência dela que era muito semelhante, exceto que ela fazia tudo SOZINHA: balançar e acordar várias vezes para balançar mais e dar o seio. Então, se para nós já era difícil em dois, imagina para essa moça.”

licença-paternidade1-e1521469498200

Segundo documento sobre paternidade ativa elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o papel do pai na visão ativa é permeado por níveis. O nível prático é o homem cuidar e se preocupar com as necessidades e demandas dos filhos e estar atendo as tarefas domésticas. A presença emocional é o segundo nível e se caracteriza pela construção do vínculo e a ligação emocional com o filho. Transformação pessoal aparece num terceiro nível que é entender o papel e responsabilidade de ser pai e como isso afeta o nível social. Para Giovan “educação, cuidado, tudo. Não deveria ser visto como diferente do papel da mãe. Poucas coisas não podem ser feitas, como parir ou amamentar no seio, mas tudo o que não envolve uma diferença biológica óbvia deveria ser, por princípio, responsabilidade conjunta.”

Ainda é um desafio para os homens

Segundo informações sobre o dossiê Paternidade no Brasil, elaborado pelo Instituto Promundo em 2016, as políticas públicas relacionadas à paternidade não são abrangentes, o documento afirma que o setor privado precisa compreender que “as relações de trabalho, procedimentos e políticas internas estão intimamente ligadas às condições necessárias para produzir justiça social no campo da equidade de gênero”. Bruna Sinigaglia pesquisadora de gênero e mercado de trabalho do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Cruz Alta, afirma que para garantir a permanência do homem em casa durante um período considerável ou até mesmo a redução de sua carga horária é necessário que as empresas colaborem para isso, “o pai precisa se fazer presente ele precisa estar diariamente compartilhando dos cuidados zelando pelos cuidados dos filhos assim como a mãe faz flexibilizando inclusive seus horários de trabalho para atender o filho.”

Para a pesquisadora as discussões em torno da paternidade ativa também se relacionam com a luta pela superação das desigualdades entre homens e mulheres e com o processo emancipatório da mulher. De acordo com Bruna “apesar de todas as mudanças sociais da contemporaneidade a mulher ainda está à frente nas atividades domésticas, dos cuidados com os filhos e são fatores que acabam impactando negativamente a sua profissão, pois gera um desgaste e uma menor disponibilidade que os homens.”

Uma paternidade mais ativa por parte dos homens além de colaborar com o bem-estar da família. Contribuí para que a mulher também possa se consolidar no mercado de trabalho com as mesmas condições que o homem. Bruna afirma que é “preciso que os pais tenham uma visão mais ativa do que precisa ser feito sem esperar com que as mães digam o que precisa ser feito.”

Como posso ser um pai ativo?

Tag

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento. O abandono paterno é uma realidade cruel como afirma com o professor de história e pai do Sebastian, Gilvan “o abandono paterno existe em vários níveis, desde o pai que nega de fato o filho, não assume oficialmente, ao pai que faz tudo isso na teoria, mas na prática não: não é corresponsável pelo filho, apenas “ajuda”, é auxiliar, ou ainda que confunde paternidade com provimento financeiro. Então, penso que a paternidade deveria ser vista e compreendida em pé de igualdade à maternidade, como co-responsabilidade sobre os filhos, e não como acessório.”

Dessa forma é urgente que os homens passem a ser ativos, segundo a UNICEF pais ativos são aqueles homens que exercitam uma relação afetuosa e emocional com seu filho. Mantém uma relação que vá além do provimento financeiro, participam dos cuidados diários e da criação do seu filho. Compartilham com a mãe as tarefas de cuidados com o filho e com a casa e estão envolvidos e informados nos momentos do desenvolvimento do filho, gravidez, nascimento, primeira infância, infância e adolescência.

Ser pai segundo Giovan “é ser humano e se confrontar com isso diariamente, com nossas potencialidades e limites, com o complexo de nossa existência. É cuidar, amar, educar, ser referência. É se preocupar, se divertir, se estressar. Lidar, bem ou mal, com o cansaço e as incertezas, com não saber o que fazer com as birras, com o sono, com a alimentação. Mas também é se encantar com o desenvolvimento surpreendente daquele ser-humaninho, seus saltos e suas grandes descobertas cotidianas. Se alegrar com aquela risada mais gostosa do mundo e dar o seu melhor para lidar com os momentos mais difíceis. Acredito que ser pai ou mãe é tudo isso. Não deveria existir uma distinção fundamental entre ambos quanto a essas coisas.”

Fonte: Jornalista Responsável Carolina Moro (MTB 16364) para a Rádio Cidade FM, de Ibirubá/RS

Fonte fotos:

https://lunetas.com.br/situacao-da-paternidade-no-mundo-2019/

https://www.secad.com.br/blog/todas-as-outras/licenca-paternidade-o-que-mudou/

http://colecoes-literarias.blogspot.com/2015/08/tag-super-pai-literario-original.html

Situação da paternidade no mundo: falta licença, sobra trabalho!

Dividir igualmente entre homens e mulheres as atividades relacionadas à educação dos filhos e da casa parece ser um desafio…

O relatório “Situação da Paternidade no Mundo 2019” cobra por uma divisão justa do cuidado. O tempo de licença-paternidade reduzido é um dos entraves. Confira!

www.ioeilmiobambino.itapnee-notturne-9f7587dae0c4b4634fd1f0b0180dc40d11c5d088

Dividir igualmente entre homens e mulheres as atividades relacionadas à educação dos filhos e da casa parece ser um desafio global. O relatório anual “Situação da Paternidade no Mundo 2019”, publicado recentemente pela organização sem fins lucrativos Promundo, aponta que, por mais que 85% dos pais afirmem estar dispostos a se envolverem de forma mais ativa nas primeiras semanas e meses de cuidado de uma criança recém-nascida ou adotada, a maior parte da responsabilidade ainda recai sobre as mulheres. Entre as barreiras que impedem o equilíbrio está a desvalorização do cuidado e do trabalho doméstico não remunerados.

Além dos estereótipos construídos socialmente e que reforçam a ideia de que as mulheres são “mais capazes” do que os homens de cuidar das crianças, o documento sinaliza ausência de suporte governamental suficiente e de políticas públicas que garantam segurança financeira nas famílias para enfrentar essa realidade. Globalmente, as mulheres passam mais tempo (até dez vezes mais) em trabalho não remunerado, voluntário e doméstico. Também são as mulheres que somam mais horas em trabalho não remunerado e remunerado juntos.

Até o momento, nenhum país do mundo conseguiu atingir a igualdade no trabalho de cuidado não remunerado entre homens e mulheres. A análise de uso de tempo a partir de dados coletados em mais 40 países pelo relatório indica que está balança poderia ser mais justa se os homens se dedicassem pelo menos 50 minutos a mais por dia nos cuidados, e as mulheres 50 minutos a menos.

1

Situação da Paternidade no Mundo 2019

 O State of the World’s Fathers, produzido pela ONG Promundo, é um relatório e uma plataforma de advocacy mundialmente reconhecidos e que visam mudar as estruturas de poder, políticas e normas sociais em torno do trabalho de cuidado e promover a igualdade de gênero. O documento foi lançado no dia 05 de junho na Conferência Women Deliver 2019, em Vancouver, Canadá, em um evento coorganizado pela Promundo e pela Dove Men+Care.

O relatório revela novos dados de pesquisas realizadas pela Dove Men+Care, da Unilever, em sete países (Argentina, Brasil, Canadá, Japão, Holanda, Reino Unido e EUA) e com a ONG Plan International Canadá, em quatro países, a partir de entrevistas e questionários conduzidos com cerca de 12.000 pessoas. “Situação da Paternidade no Mundo 2019” também inclui uma análise de dados da Pesquisa Internacional sobre Homens e Equidade de Gênero entre mais de 30 países.

Licença-paternidade

Mudar esse cenário exige mais do que boa vontade por parte de homens e mulheres. Outra barreira na promoção de igualdade é a falta de licença-paternidade adequada, junto com o baixo uso da licença quando disponível.

Nos sete países de renda média e alta, em que a pesquisa foi realizada, mais de 65% das mulheres afirmam que as mães teriam melhor saúde física e mais de 72% afirmam que teriam melhor saúde mental se os pais tirassem pelo menos duas semanas de licença-paternidade. Apesar disso, menos da metade (48%) dos países no mundo oferece licença-paternidade paga. Quando a política é garantida, ela é geralmente inferior a três semanas ou de apenas alguns dias.

Como-o-Pai-Afeta-o-Recem-Nascido

“As mulheres querem que os homens tirem licença-paternidade e dizem que isso melhoraria sua própria saúde”, revela o documento.

A insegurança financeira das famílias também influencia o envolvimento dos homens no cuidado, o que acaba se tornando uma razão para não usufruir da licença parental, conforme garante até 76% das mães (Reino Unido) e 59% dos pais (Canadá) dos sete países de renda média e alta pesquisados. Fatores como conflitos, guerras e instabilidade política também se apresentam como grandes desafios para o cuidado.

No Brasil, todos os pais empregados com carteira assinada têm o direito à licença-paternidade de cinco dias. Essa licença pode ser estendida para 20 dias nos casos em que a empresa está inscrita no Programa Empresa Cidadã.

Alimentar, trocar fralda e dar banho nas crianças ainda são tarefas de cuidado associadas às mulheres por parte significativa dos participantes das pesquisas realizadas pela Promundo e parceiros, em todas as regiões do mundo. A ideia de “competência” também assombra a realidade parental: no Canadá, Holanda, Japão e Reino Unida, os homens confiam muito mais em suas parceiras do que o contrário.

“Quando os pais assumirem uma parte igualitária do trabalho de cuidado, isso acelerará o progresso para esta geração e para a próxima, ajudando suas/seus filhas/os a apoiarem a equidade de gênero e a quebrarem estereótipos”, garante o estudo.

Recomendações

O relatório “Situação da Paternidade no Mundo 2019” convida todos os países e a sociedade civil a se comprometer com ações que apoiem a participação ampliada dos homens no trabalho de cuidado não remunerado. Garantias de extrema importância e urgência são: educação e creches acessíveis, salários dignos e licença-parental igualitária, totalmente paga e intransferível. Ao todo, o documento apresenta cinco recomendações para preencher a lacuna do cuidado não remunerado:

1- Melhorar leis e políticas;

2- Transformar normas sociais de gênero;

3- Construir segurança física e econômica para famílias;

4- Ajudar casais e cuidadores a prosperar coletivamente;

5- Colocar o cuidado individual dos pais em ação.

Além do documento, a campanha Mencare lança o Compromisso Homens Cuidam, com o objetivo de orientar os pais e facilitar a construção de um cenário em que homens possam assumir 50% dessas funções até 2030. As pessoas podem se engajar nas discussões online sobre o tema usando #WorldsFathers.

“Não estamos apenas convocando pais a exercerem pequenos gestos que demonstram igualdade. Também não se trata de celebrar algumas poucas conquistas que os homens já deveriam estar fazendo. Estamos buscando igualdade plena. É preciso transformar o mundo ao redor dos indivíduos para que se acredite que o cuidado importa e que ele precisa ser igualmente compartilhado” (tradução nossa), diz o texto do relatório.

Por isso, tanto governos quanto empregadores têm papel na criação de políticas que apoiem pais e mães, cuidadores e famílias, em toda a sua diversidade, a prosperarem. Valorizar o trabalho não remunerado é uma tarefa coletiva.

2

 

Fonte matéria: https://lunetas.com.br/situacao-da-paternidade-no-mundo-2019/

Fonte imagens: https://www.meliuz.com.br/blog/como-surgiu-dia-dos-pais/

https://mamaetagarela.com/como-o-pai-afeta-o-recem-nascido/