Quantas vezes você se reconheceu assistindo um programa de TV ou lendo uma revista? Muita gente não percebe, mas o fato de olhar ao redor e não se enxergar nos padrões veiculados nas mídias pode ser bastante prejudicial para a formação do caráter e construção da autoestima.
Recentemente pudemos acompanhar a premiação do Oscar, onde foi possível trazer novamente à tona a discussão sobre a falta de representatividade. Seja ela pelo fato de nenhuma mulher ter sido premiada na categoria de melhor direção, bem como, a falta de atores negros.
O impacto da falta de pessoas representantes de vários grupos implica na ideia de que eles, talvez, não pertençam àquela realidade.
A falta de representatividade atinge muitas esferas da vida de várias pessoas — principalmente aquelas que estão longe de um padrão estético — de maneira séria e real, excluindo-as de situações cotidianas que deveriam ser normais para todo mundo.
Isso representa um problema mais sério e estrutural, ou seja, que está presente em várias estruturas da sociedade e que, além da autoestima, influencia o modo como essas pessoas vivem. O racismo é um exemplo: é conhecido que pessoas negras, devido a uma pesada carga histórica, sejam menos representadas e aceitas.
Além da população negra, surgiram novos termos e análises para definir a falta de representatividade em outros grupos e minorias. Um deles é definição da gordofobia, ou seja, a fobia de pessoas gordas. Muito mais do que uma questão estética, a gordofobia é um problema social, um tipo de preconceito.
O que impacta e muito na autoaceitação destas pessoas.
Isso foi provado por um estudo publicado em 2015 na revista Social & Personality Psychology Compass. Nele, foi concluído que a exclusão social por questões de peso está muito associada a quadros depressivos, ansiosos e de baixa autoestima.
Esse e outros cenários semelhantes representam problemas sérios, que devem ser discutidos e, muito mais que isso, estudados. Muito além da autoimagem, refletem diretamente no nível de desigualdade e exclusão em toda a sociedade.
Já quando o assunto é o Oscar, a falta de diversidade não é novidade. Em seus quase 100 anos de existência, somente cinco mulheres concorreram na categoria de melhor direção, com uma única vencedora (Kathryn Bigelow, em 2010). Em 2015, a indignação com a falta de indicados negros deu origem à campanha #OscarsSoWhite (“Oscar é branco demais”, em tradução livre), agora atualizada para #OscarsSoWhitePart2 (“Oscar é branco demais parte 2”) e #OscarsSoWhiteAndWithMoreMen (“Oscar é branco demais e tem mais homens”).
Na imagem principal, vocês puderam notar que a atriz Natalie Portman usou uma capa no Tapete Vermelho com os nomes bordados de diretoras que não foram indicadas ao Oscar. Essa foi a forma que encontrou de reconhecer as mulheres incríveis que não são reconhecidas pelos seus trabalhos e uma maneira de chamar a atenção da Academia por indicar apenas homens para a categoria de Melhor Diretor por mais um ano.
“O Oscar é um reflexo do mercado”, afirma o professor Humberto Neiva, coordenador do curso de Cinema da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo. Mesmo com a meta de dobrar o número de membros mulheres e de minorias até 2020, expandindo o número de votos para quase 9 mil pessoas, a Academia segue majoritariamente masculina (68% dos membros) e branca (84% dos integrantes).
E, como as indicações são feitas em blocos (diretores só podem ser indicados por diretores), a representatividade fica ainda mais diluída: não adianta ter quase 9 mil membros se eles entraram somente em sete dos 17 blocos, conforme revelou a Academia em 2017. “A votação é mais democrática, mas a indicação é feita por um número x de pessoas que fazem o crivo, e a maioria é mais tradicional”, explica Neiva.
Entretanto, é justamente porque a Academia está tão ligada ao mercado que pressões e campanhas tendem a surtir efeito. A nova meta de incluir mais mulheres e minorias, por exemplo, só foi estabelecida graças à campanha #OscarsSoWhite. E, por ser a última nas temporadas de premiações, os membros tendem a prestar atenção ao clima político do momento.
O impacto de uma (possível) estatueta
Essa relação íntima com o mercado também ajuda a explicar por que é tão importante cobrar maior representatividade nos indicados ao Oscar. À primeira vista, pode parecer bobagem em uma premiação entre tantas outras, em uma indústria já marcada pela falta de diversidade. Mas nenhum outro prêmio tem tanto impacto e prestígio quanto o da Academia.
“O Oscar tem repercussão direta com o grande público, mais que Cannes, Berlim, Veneza”, observa Neiva. Uma das explicações talvez seja o fato de ser uma premiação da indústria para a indústria, e os Estados Unidos ainda são a maior potência ocidental quando o assunto é cinema. “É como se fosse uma chancela de que um filme é bom, mesmo que os critérios sejam principalmente comerciais.”
Não à toa, mais da metade do lucro com as bilheterias de um filme indicado ao Oscar vem depois da indicação, segundo o Statista. Em 2014, por exemplo, 90,4% do lucro de Sniper Americano veio depois da indicação ao prêmio, do qual não saiu vencedor. Entre os indicados deste ano, 1917 (que já levou o Globo de Ouro) espera ver as vendas nas bilheterias domésticas saltarem 192% até a cerimônia. “O melhor momento para um filme é entre a indicação e a festa”, explica o professor da FAAP.
Seguimos acreditando que apesar de ser um movimento silencioso, a realidade está mudando aos poucos, trazendo à tona questionamentos às marcas e grandes empresas, que inclusive mudaram sua maneira de fazer propaganda, considerando e compreendendo o impacto da falta de representatividade, não só em suas metas financeiras, como também na autoestima das pessoas que até então estavam excluídas.
Fontes pesquisadas:
https://minutosaudavel.com.br/autoestima/
https://www.cineclick.com.br/galerias/oscar-vencedores-30-anos-melhor-filmes
http://4buzz.com.br/imprimir-representatividade/